quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Entusiasta das aves finalmente conhecerá o soldadinho-do-araripe

Weber Girão

Apreciar aves é um costume relativamente comum, todavia, apenas algumas pessoas são verdadeiramente alucinadas por estes animais, independentemente de serem pesquisadores. O maior entusiasta que conheci não estudou para ser cientista, mas isso nunca importou. Seu amor pelas aves congregou pessoas totalmente diferentes que simplesmente apreciavam aves, sendo este seus únicos pontos em comum. Com base nesse espírito, ele foi um dos fundadores dos Observadores de Aves de Pernambuco / OAP (ver link), um grupo que marcou a ornitologia nacional através do registro de espécies inéditas para o Brasil, como a pomba-antártica, além de promover a listagem das aves de Pernambuco e levantar seus nomes populares, entre outros méritos. O nome deste entusiasta é Manoel Toscano de Britto, de apelido Badu (ver link).

Mas qual a relação entre Badu e o soldadinho-do-araripe? O ornitólogo Galileu Coelho, um dos descobridores do pássaro, exerceu com Badu a saudável interação da sabedoria popular com o conhecimento científico, e esta cooperação amplificou a capacidade de ambos, servindo como exemplo na conduta adotada no projeto de conservação da ave. Também através da ONG fundada por Badu foi realizado o primeiro projeto de conservação do soldadinho-do-araripe, mas estes dois fatos relacionados ao pássaro cearense são menos importantes do que o desejo de Badu de conhecer o soldadinho-do-araripe. Este desejo foi adiado por algumas dificuldades, principalmente de saúde.

Doenças nunca impediram Badu de observar aves, chegando a fazer inclusive listas de espécies no leito hospitalar, graças a uma janela que permitia a visão limitada do jardim, como narrado pelo amigo Gustavo Pacheco. Colecionar caixas de fósforos com figuras de aves, fazer recortes de jornais por décadas e listar todas as espécies que apareceram na novela Pantanal são alguns exemplos de sua verdadeira alucinação por aves. Mas agora, Badu não terá limites para conhecer o soldadinho-do-araripe. Aliás, todas as aves do mundo...














Veja bem! Gilmar Farias, Badu e Weber Girão.

4 comentários:

  1. Weber,
    É muito difícil conter a emoção lendo este post, lembrando do Badu e vendo esta foto. Em 2004, andamos juntos pelo sertão pernambucano fazendo lista de aves e coletando nomes vernáculos. Tenho excelentes lembranças da companhia do Badu nos trabalhos de campo.

    Hoje, no cemitério, durante o sepultamento, um anu-branco vocalizou de forma melodiosa e tornou-se o nosso porta voz na derradeira despedida ao velho Badu. Ainda estou abatido, mas feliz por saber que agora ele observará as aves de um ponto privilegiado.
    Gilmar

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  2. Estive com o Badu, apenas uma vez... no hospital,há alguns anos,junto com Angélica e Glauco. Parecia qua a gente já se conhecia há muito tempo... aliás...conhecíamos... mas nao pessoalmente... e a admiração mútua nutria esta amizade. Pena que nao convivi com ele... Glauco e Gilmar sempre contavam suas peripécias.... estou triste....lembrei-me da lista de aves que ele estava fazendo no hospital.....acho que na época ja dava umas 15 espécies... beijos a todos.

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  3. Ainda não consegui me refazer do choque que tive ontem logo ao acordar, com a trágica e inesperada notícia do falecimento do nosso querido Badu. Mal posso acreditar que aquele amigo e professor com quem convivi por seis anos nas nossas saídas nas praças do Recife, nas nossas conversas, não vai mais nos dar o prazer de sua companhia. Pessoas como Badu não deveriam morrer nunca. No momento solene do enterro, algumas aves romperam o silêncio e o saudaram com seu canto. Não poderia haver homenagem maior do que aquela, para o nosso velho Badu!
    Afonso Amorim

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  4. Lindo Wagner, teu texto. Foi muito ruim ontem à tarde, após chegar do trabalho e almoçar, ver minha caixa de mensagem cheia de mensagens: "Falecimento de Badu". Não acreditava, mesmo lendo todas elas... Porcaria de vida moderna e que ele sabiamente não tinha. Entrei em desespero por não conseguir falar com ninguém (todos no enterro), afinal, consegui falar com esposa de Glauco. Nunca tenho tempo de abrir e-mails à tarde, e sim, apenas depois de Stellinha dormir. Ela estava aos meus pés e ficou muito aperriada, e acho que sem entender meu desespero. Ele me prometeu de vir conhecê-la em julho, e não veio. Queria muito tb que ele soubesse que após 2 anos, voltei a trabalhar em junho. Sempre pensava e lembrava dele, mas após Stellinha, não faço muitas coisas além de trabalhar e cuidar dela. Há muito não nos víamos, e nos falamos por fone a última vez em maio - creio eu. Queria tanto ter podido me despedir do meu amigo, esse é o 2o que me abandona esse ano sem direito a despedidas. Queria que ele visse como Stella já observa aves, apenas ouvindo o canto, ela aponta o indicador na direção do ouvido e faz ar lindo de espanto. Tive muitas coisas boas nos 3 anos no Espaço Ciência, mas a mais maravilhosa foi conhecer Baduzito no final dos anos noventa. Aqui na minha casa todos ficaram tristes... Minha saudade dele aumentou muito e fico muito triste em não poder matá-la, pegando ônibus p o Engenho Maranguape... Consolo: tenho certeza que ele está em excelente lugar, nos observando e nos guiando. Abraços em todos...

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