terça-feira, 21 de junho de 2011

Soldadinho-do-araripe e o São João

Símbolos da biodiversidade e cultura

Weber Girão

Plante o milho em São José pra colher em São João, diz a sabedoria popular. Seu significado é simples: o milho semeado por volta de 19 de março, dia de São José, vai gerar espigas próximo a 24 de junho, dia de São João. Naturalmente, as chuvas são decisivas para uma boa safra, que reflete na animação das festas juninas. Em 2011, três dias antes do dia de São José, foi iniciada uma parceria entre o Projeto Soldadinho-do-araripe (PSA) e a escola de línguas CCAA. O objetivo desta união é difundir os resultados do PSA para os públicos que falam inglês e espanhol. Chegou São João e a época de colher nosso "milho". A celebração junina do CCAA contou com a participação do PSA, que promoveu uma atividade com alunos, professores, pais e diretores, envolvendo a cultura popular e a conservação da natureza.

Os eventos juninos têm as fogueiras como um de seus símbolos. Mas o fogo, quando descontrolado, ameaça a conservação da biodiversidade, inclusive o soldadinho-do-araripe. No dia 16 de junho foi discutido um plano apoio ao cultivo do pequi e do babaçu na região do Cariri. O evento contou com a participação de representantes dos Ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, além de entidades regionais. Gráficos apresentados na ocasião demonstraram o crescimento do mercado e dos preços do pequi, sendo a Chapada do Araripe o maior produtor nacional do fruto. O babaçu, no entanto, encontra-se em declínio comercial, e tem pouca representatividade na produção nacional (cerca de 1%).

Na Região do Cariri cearense, o babaçu é concentrado nas encostas da Chapada do Araripe, e sua grande densidade reflete um processo de uso insustentável dos recursos naturais, que ameaça a vegetação legalmente considerada como Mata Atlântica, da qual atualmente restam 31 quilômetros quadrados. Esta ameaça decorre da facilidade de combustão do babaçu, que também põe em risco o planalto da Chapada do Araripe, onde encontra-se a maior parte do plantel de pequi da região. Segundo alguns autores, o babaçu não seria nativo do Ceará. Para que um plano de incentivo desta cultura seja ambientalmente sustentável, duas condições são determinantes: (1) seu cultivo teria de ocorrer em áreas planas, como observado em uma plantação às margens da Av. Tomás Osterne de Alencar, Crato; (2) palmeiras nas encostas da chapada teriam de ser progessivamente erradicadas.

Outra palmeira, o buriti, outrora simbolizou o Município do Crato através da música de Luís Gonzaga e foi um dos produtos mais comercializados em feiras populares. A ausência de uma estratégia de conservação fez com que este recurso natural fosse esgotado, praticamente desaparecendo com a vegetação que o abrigava, denominada em outras partes do Brasil como vereda. Apenas com políticas sérias poderemos conviver com a natureza que nos simboliza, ao contrário do que aconteceu com a ema cantada por Jackson do Pandeiro, o assum-preto e a asa-branca, das músicas de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira. A ema foi extinta no Ceará, o assum-preto do Cariri e da asa-branca resta pouco do que viram estes artistas em suas épocas.

Projeto Soldadinho-do-araripe no São João do CCAA.


São João do CCAA com Bruce Willis (!), Maria Elia Moreira e Weber Girão.

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