soldadinho-do-araripe: Canto do soldadinho-do-araripe ecoa pelo mundo

Projeto de conservação do pássaro repercute no 25º Congresso Internacional de Ornitologia

Weber Girão

Eventos que ocorrem a cada quatro anos costumam chamar atenção nacional e internacional. Tem sido assim com o futebol através da Copa do Mundo há 80 anos e com as Olimpíadas há 114 anos, entretanto, outro evento mais antigo e de igual periodicidade ocorreu no Brasil em 2010 – O 25º Congresso Internacional de Ornitologia (IOC), que foi realizado em Campos do Jordão, São Paulo, entre os dias 22 e 28 de agosto e reuniu estudiosos das aves de todas as partes. Esta é a primeira vez que o congresso ocorre na América Latina. Desde sua primeira edição, há 126 anos, o encontro só foi realizado duas vezes no continente americano (Estados Unidos e Canadá), sendo o último há 24 anos.

Centenas de cientistas, estudantes e conservacionistas circularam entre conferências e painéis, prestigiando o estande da Save Brasil e Aquasis, ONGs que defendem as aves silvestres brasileiras. Em sua categoria, estas entidades representaram o Brasil com exclusividade no IOC. Na ocasião foram criadas excelentes oportunidades para o incremento dos projetos de conservação das aves, especialmente do soldadinho-do-araripe. Entre os renomados pesquisadores que conheceram este projeto destaca-se o Dr. Richard Prum, especialista na família do soldadinho-do-araripe, entre outros méritos. O Dr. Prum deve visitar a região da Chapada do Araripe em 2011 para contribuir com sua conservação, tendo declarado que “este é o pássaro em maior evidência no mundo”.

O projeto também foi apresentado para o Dr. Stuart Butchard, Coordenador do Programa Global de Espécies da BirdLife International, uma entidade representada em diversos países com o objetivo de conservar as aves. Um artigo do Dr. Butchard publicado na revista Science alcançou grande repercussão ao demonstrar que a sociedade não está se esforçando o suficiente para proteger as aves, alertando para a defesa das 190 espécies mais ameaçadas do mundo, entre as quais se inclui o soldadinho-do-araripe, cuja imagem tem sido utilizada para simbolizar esta biodiversidade. O cientista elogiou o projeto, lembrando que existe muita gente torcendo pelo seu êxito.

O carisma do soldadinho-do-araripe conquistou os visitantes do estande, contudo, outra ave também ajudou a sensibilizar os participantes do IOC – o cara-suja, o periquito mais ameaçado de extinção no continente. A conservação do cara-suja depende dos trabalhos executados pela Aquasis no Ceará, sendo esta ONG a guardiã destas duas aves, uma honra conferida pela BirdLife International em seu programa de prevenção contra extinções.

Em 2010 a Aquasis iniciou uma nova etapa nos projetos de conservação destas aves, cuja estratégia inclui a permanência dos coordenadores nas áreas de ocorrência das espécies. A Chapada do Araripe, na divisa do Ceará com Pernambuco, é o único lugar onde o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) ocorre, enquanto a Serra de Baturité, no Ceará, é o principal refúgio do periquito cara-suja (Pyrrhura griseipectus). Estes projetos têm a coordenação local dos biólogos Weber Girão e Fábio Nunes, respectivamente, e contam com apoio dos pesquisadores Alberto Campos, Ciro Albano e Jason Mobley.

A Save Brasil conduz um trabalho similar na região de Boa Nova, Bahia, com Edson Luiz que reside na cidade desde 2005. Nessa região um amplo trabalho de mobilização junto à comunidade local transformou o gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus) na ave símbolo da biodiversidade da Mata-de-cipó (tipo de vegetação onde a Mata Atlântica e a Caatinga se encontram). Como resultado prático deste trabalho duas unidades de conservação federais acabam de ser criadas em Boa Nova protegendo o gravatazeiro e as outras quase 400 espécies de aves que ocorrem nesta área.