domingo, 17 de abril de 2011

Arte vs. gaiola

Brasileiro ajuda aves

Weber Girão

A arte geralmente é o melhor argumento, pois vai além do raciocínio, atingindo o coração. Diferentes formas de expressão artística podem emocionar e também educar, provocando mudanças de atitude que nos tornam melhores. A arte voltada para crianças propicia transformações na melhor época, marcando a vida com lembranças que a acompanham para sempre. Além disso, a criança que vive no âmago de cada adulto também pode se sensibilizar, e afinal, é preferível ser melhor tarde do que nunca!

O aprisionamento de aves é um dos fatores que mais leva espécies à extinção, e expressões artísticas tradicionais, como a poesia e a música, foram dirigidas ao público infantil combatendo esta prática. O poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918) foi um que teve esta preocupação, representada no poema Pássaro Cativo, reproduzido no fim desta postagem.

A Animação Digital é uma das mais novas formas de arte, e as lições dirigidas às crianças (pequenas e adultas!) têm se notabilizado pela sensibilidade e poder de transformação. O exemplo mais recente é o filme Rio, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha. Apesar do tráfico da fauna silvestre não ser o fator que ameaça o soldadiho-do-araripe, se esta situação mudar, a espécie pode acabar num piscar de olhos. Além disso, outras espécies extintas pelo tráfico tornam a vida mais frágil, pois as formas de vida têm relações muitas vezes estreitas e desconhecidas.

Se você não viu a animação digital Rio, ainda dá tempo de ir ao cinema! A criança que lhe acompanha, visível ou invisível, certamente vai adorar!

PÁSSARO CATIVO

Armas, num galho de árvore, o alçapão
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
Gaiola dourada;

Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos e tudo.
Por que é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.

Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro

Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores
Sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola,
De haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde construído

De folhas secas, plácido, escondido.
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pombas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
Quero voar! Voar!

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar,
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição,
E a tua mão tremendo lhe abriria
A porta da prisão...

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