quinta-feira, 7 de julho de 2011

Morondongo, babaçu, Orbignya phalerata

Como não matar a "galinha dos ovos de ouro"

Weber Girão

A Chapada do Araripe concentra água no Cariri de forma comparável a um funil gigantesco. O resultado deste fenômeno foi a diversificação de ambientes nesta região, aumentando sua biodiversidade. As pessoas que fugiam do sertão seco se fixaram aqui graças a este recurso.

Como exemplo, os cerradões do alto da chapada forneceram o pequi, os vales proveram o buriti, enquanto nas encostas existia a palmeira do côco babaçu (Orbignya phalerata), conhecido localmente como morondongo. Com estas plantas prosperamos, e então começamos a cultivar outras.

A cana-de-açucar chegou com tanta força que mais de 300 engenhos chegaram a funcionar nos vales. Contudo, a exploração foi demasiada. O resultado foi a concentração de renda com uma elite e a degradação do buriti para os coletores. A utilização insustentável acabou com a própria "era de ouro" da cana. O buriti, que já foi um dos produtos mais comercializados na feira do Crato, hoje é insignificante.

Desde 1946, a exploração do pequi conta com uma importante reserva, a Floresta Nacional do Araripe. Ainda temos desafios para melhor manejar este recurso, mas ele continua conosco, assim como a mangaba, a fava-d'anta e outros.

Segundo alguns pesquisadores, o babaçu não seria uma espécie nativa da região. Teria sido trazida por índios. Mas mesmo assim, integrou-se à flora facilitando a fixação humana. Entretanto, a destruição das florestas nas encostas da chapada promoveram o seu avanço. Por ser repleta de óleo, agrava a intensidade dos incêndios, diminuindo a biodiversidade deste ambiente, e o prejuízo desta proliferação atinge todas as pessoas da região.

Para ser sustentável, o manejo do babaçu tem de levar em conta a redução do seu contingente nas encostas. Sobre este tema, no dia 6 de julho, o Fórum Araripense de Prevenção e Combate à Desertificação se reuniu com atores sociais no Instituto Cultural do Cariri, por intermédio do Projeto Soldadinho-do-araripe. Na ocasião, foi debatido o Plano Nacional da Cadeia de Produtos da Sociobiodiversidade, nos Arranjos Produtivos Locais do babaçu e do pequi.

A criação de uma Unidade de Proteção integral na encosta da Chapada do Araripe, com a redução do babaçu, é um meio de garantir o futuro da biodiversidade para todos. 600 anos antes de Cristo, o lendário autor grego Esopo teria criado uma fábula sobre a "galinha dos ovos de ouro". A moral da história é: cuide da fonte do seu tesouro para tê-lo sempre.

Pedro Monteiro (ICMBio) debatendo sobre o morondongo.

Soldadinho-do-araripe de olho!

Reunião dos atores sociais.

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