quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Compensação de obra pode resguardar fontes d'água

Sociedade atenta evitará outros fins ao recurso

Weber Girão

As histórias do Ceará e da seca são indissociáveis. Um capítulo deste complexo e polêmico assunto começou há mais de 160 anos, quando Marcos Antônio de Macêdo (1808-1872) propôs a transposição das águas do Rio São Francisco para perenizar no Ceará o Rio Jaguaribe. Na ocasião, Macêdo era Intendente do Crato, função equivalente à de prefeito, além de Deputado Provincial, tendo apresentado um projeto ao Imperador Dom Pedro II.

Algumas ações de convivência com a seca chegaram a ser ordenadas, como a construção do açude do Cedro, em Quixadá. Mas às vésperas da República, todo o recurso destinado aos flagelados da seca no Ceará foi desperdiçado em uma grande festa de despedida do Império, conhecida como Baile da Ilha Fiscal. Naquele tempos, poucos entendiam o que acontecia, mas eram menos ainda os que tinham meios de se opor.

Nos tempos de hoje, à despeito de conflitos ambientais, as obras da transposição são uma realidade e logo um outro canal deverá sair dos projetos, o chamado Cinturão das Águas. O primeiro trecho vai margear as encostas da Chapada do Araripe no setor onde nascem mais de 80% de suas águas. Justamente nesde trecho vive o soldadinho-do-araripe, um pássaro ameaçado de extinção que simboliza a conservação das fontes.

Os estudos desta obra recomendam que sua Compensação Ambiental seja revertida para a proteção do hábitat do soldadinho-do-araripe. Se devidamente cumprida, esta sugestão poderá viabilizar a conservação das quase 130 fontes através da recuperação florestal, garantindo água para moradores das encostas da chapada. Atualmente é observada uma tendência de declínio na vazão destas nascentes.

O momento coincide com a visita de dois técnicos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que vieram de Brasília e percorreram a área das encostas onde estão as fontes e o pássaro. Um dos objetivos da ação foi continuar os estudos para a criação de uma nova Unidade de Conservação. Durante as atividades foi descoberto um grande desmatamento nas encostas da chapada em Missão Velha.

Ontem e hoje aconteceram três audiências públicas do projeto nas cidades de Jati, Missão Velha e Crato, onde foi expresso o desejo da sociedade de que a compensação beneficie as nascentes da região, afinal, as águas que chegarão do São Francisco também nascem, assim como é justo que continue acontecendo com as fontes da Chapada do Araripe. Cabe agora a atenção da sociedade para que velhas histórias não se repitam.


Eliana Corbucci, do ICMBio, em visita de estudos na Chapada do Araripe com Weber Girão (Projeto Soldadinho-do-araripe/Aquasis).


Marcelo Cavallini, do ICMBio, e Taís Campos (Aquasis), na audiência de Missão Velha.


Audiência realizada na RFFSA, Crato, com discurso de Yarley Brito (Cogerh): Representante da sociedade atento para que a compensação da obra beneficie a proteção das fontes.

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