sábado, 18 de setembro de 2010

Crise dos incêndios ameaça pássaro em extinção

Soldadinho-do-araripe sofre com seca e fogo irresponsável

Weber Girão

No dia 17 de dezembro de 2004 a notícia de um incêndio criminoso se alastrou pelo mundo, pois colocou em risco vários ninhos do soldadinho-do-araripe, uma das aves mais ameaçadas de extinção global. Na ocasião, estavam sendo realizadas as pesquisas que culminaram com seu primeiro Plano de Conservação. Este documento chamava atenção para a grande quantidade de palmeiras de babaçu (Orbignya speciosa) no habitat da espécie, um desequilíbrio ambiental perigoso em função de seu grande teor de óleo inflamável.

Faltando exatamente três meses para completar seis anos, um terrível incêndio está queimando a mesma área atingida em 2004, justamente quando a Portaria N.95 de 27 de agosto de 2010 acaba de ser publicada aprovando a nova versão do Plano de Conservação do soldadinho-do-araripe. No documento atualizado, as chefias da Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Araripe e da Floresta Nacional (Flona) do Araripe se comprometem a "realizar operações sistemáticas de monitoramento, controle e proteção visando coibir o desmatamento, captação ilegal, queimadas, ocupação irregular, dentre outros ilícitos" além de "formar brigada de incêndios para prevenção e queimadas na APA e apoiar a formação de brigadas comunitárias locais". Para realizar esta difícil tarefa, a equipe das duas Unidades federais de Conservação dependem do apoio do Conselho Consultivo da Flona (Universidade Regional do Cariri, Corpo de Bombeiros, Cia. de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), comunidades do entorno da Flona e Prefeituras dos cinco municípios que abrangem a área da Flona Araripe) e Brigada de Incêndio, além da Secretaria municipal de Meio Ambiente do Crato (Semac).

A crise dos incêndios que afeta o Cariri cearense e o soldadinho-do-araripe é a mesma que está deixando grande parte do Brasil em brasa. O fenômeno é agravado pelo aquecimento global, e estima-se que alguns ambientes levarão até dois séculos para se recuperar, todavia, se parte dos míseros 3.100 hectares que servem de lar para a ave cearense virar carvão, isso irá acelerar
seu processo de extinção, que infelizmente, será para sempre, levando consigo o equilíbrio de um sistema hidrogeológico sensível que afetará o abastecimento d'água de quase um milhão de pessoas.

As mudanças climáticas que assolam o Brasil já eram previstas, e adequações da gestão pública para o fenômeno foram discutidas inclusive em eventos como a ICID 2010, Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas, que aconteceu em Fortaleza, capital do Ceará, entre 16 e 20 de agosto de 2010. Entre as políticas públicas que poderiam amenizar tais efeitos destaca-se a criação de Unidades de Conservação. Também em agosto completaram dois anos desde que a ONG Aquasis (Ass. de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos), Cogerh, Semac, APA e Flona do Araripe protocolaram um ofício solicitando ao ICMBio a criação de uma nova Unidade de Conservação neste setor florestal, responsável pela proteção de 78% da vazão de toda água que ressurge nas nascentes da Chapada do Araripe, e que fazem da região um oásis. Dois anos se passaram sem que pudesse ser feita a visita técnica de representantes do órgão, apesar da área ser considerada de Importância Biológica Extremamente Alta conforme o Plano Nacional de Áreas Protegidas (MMA 2006), tendo Prioridade de Ação Extremamente Alta para sua criação.









Incêndio de 2004. (Foto: Ciro Albano)












Incêndio de 18 de setembro de 2010. (Foto: Ciro Albano)











Incêndio de 18 de setembro de 2010. (Foto: Ciro Albano)

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